segunda-feira, 6 maio, 2024
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Dia da Unificação Alemã: discurso da embaixadora

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Cumprimento Suas Excelências, autoridades aqui presentes, Prezados Colegas, Embaixadoras e Embaixadores, e representantes do Corpo Diplomático, Prezadas Convidadas, Prezados Convidados,

No mês passado, no dia 7 de setembro, o Brasil celebrou os 201 anos da sua Independência, em 1822. O Embaixador do Brasil, Sr. Jaguaribe, fez a gentileza de me convidar, para que eu pudesse ter um primeiro contato com a animada comunidade brasileira em Berlim.

No dia 8 de setembro, às 4 da manhã, fui para o aeroporto, rumo ao meu novo posto, Brasília.  

Estou muito feliz em estar aqui!  

Nosso feriado nacional, o Dia da Unidade Alemã, ainda não remete a um evento ocorrido há 200 anos, mas sim à Reunificação da Alemanha, há 33 anos. Um ano depois, ingressei no serviço diplomático. Nós, futuros diplomatas, já éramos de ambos os lados da Alemanha.  

A Reunificação do nosso país em 1990, com paz e liberdade,  foi possível porque, em 1989, caiu o Muro de Berlim, o símbolo da Guerra Fria e da divisão da Europa.

Nós dizemos: “O muro caiuˮ. Mas ele não caiu por conta própria. A Alemanha está reunificada hoje, como um país livre, porque cidadãos corajosos da antiga Alemanha Oriental e dos nossos países vizinhos, da Europa Central e do Leste Europeu, saíram às ruas por sua liberdade.

Mas a liberdade não surge por conta própria. É preciso sempre lutar por ela.

A democracia e o Estado de Direito também não são óbvios. Temos de lutar por eles. Ativamente. Não apenas em datas especiais, de celebração e homenagem.  

As eleições aqui no Brasil em outubro de 2022 e a mudança democrática de governo em janeiro mostraram: a democracia do Brasil está viva e é forte. Porque o Estado de Direito também é forte no Brasil.

As instituições brasileiras – um presidente eleito democraticamente, um Congresso eleito democraticamente e uma Justiça que funciona – são tão fortes que superaram até mesmo o maior desafio da história recente do Brasil: os ataques contra essas mesmas instituições em 8 de janeiro.    

O Brasil viveu a democracia e defendeu a democracia.

Devemos defender os valores que nos unem. Só podemos fazer isso juntos, e temos de fazê-lo, mesmo além das nossas fronteiras.  

Nestes dias, todos nós estamos perplexos diante do que Israel está sofrendo. Imagens que mal conseguimos suportar.

Nada pode justificar o terror do Hamas.   Israel tem o direito de se defender desse terror hediondo.  A Alemanha permanece firmemente ao lado dos nossos amigos israelenses. A segurança de Israel é razão de Estado para a Alemanha, como destacou o Chanceler Scholz há poucos dias, em seu pronunciamento. 

Nós também não nos esquecemos da guerra na Europa. 

A Rússia rompeu deliberadamente com os princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas e com a ordem de paz europeia.

Mas a Rússia subestimou a determinação da Ucrânia de defender a sua liberdade.

E subestimou a nossa determinação de apoiar a Ucrânia.  

Não podemos aceitar um ataque a um país soberano!

A tentativa de deslocar fronteiras com poder militar não pode ter êxito – em nenhum lugar do mundo!  

O terror e a guerra não vencerão!

Nós nos empenhamos – com os nossos amigos – pela paz e por uma ordem internacional baseada em regras.  

E é por isso que a cooperação entre Estados democráticos é tão importante.   

Estados como o Brasil e a Alemanha.

Desde a posse do Presidente Lula, as relações Brasil-Alemanha estão mais intensas do que nunca.

O Presidente Steinmeier esteve aqui em Brasília em 1° de janeiro para a posse de Lula, o Chanceler Scholz também esteve aqui no fim de janeiro.

E nada menos que sete ministras e ministros vieram ao Brasil desde então, incluindo a nossa Ministra das Relações Exteriores Baerbock, em junho.

Em 4 de dezembro de 2023, teremos Consultas Intergovernamentais em Berlim – pela primeira vez desde 2015.  

Na ocasião, o Presidente Lula e grande parte da sua equipe ministerial irão à Alemanha. Estamos muito felizes por isso. A elaboração de um programa intensivo e inovador, sobre o qual queremos chegar a um consenso durante as Consultas Intergovernamentais, está a pleno vapor.

Para a Alemanha, o Brasil é e continuará sendo um importante parceiro estratégico.  

Nossos países cooperam com êxito nas Nações Unidas. Estou feliz com a reeleição do Brasil para o Conselho de Direitos Humanos, no qual precisamos da importante voz brasileira. Parabéns!   

E estou contente que o Conselho de Segurança da ONU tenha acabado de autorizar o envio de uma força internacional ao Haiti, desta vez sob a liderança do Quênia. Sei que o Brasil apoia muito essa missão da ONU, sobretudo porque o Brasil esteve particularmente engajado na Missão de Estabilização da ONU no Haiti, a MINUSTAH.

De suma importância é a rápida conclusão do Acordo Comercial entre o Mercosul e a UE!

Nós queremos esse Acordo – e nós precisamos desse Acordo. O Presidente Lula também quer o Acordo, pois ele sabe quão benéfico o Acordo também será ao Brasil.

É por isso que todos – ambos os lados – têm que fazer a sua parte para conduzirmos esse Acordo até a linha de chegada.  

Caros convidados e convidadas,

Um dos principais desafios globais do nosso tempo é o combate às mudanças climáticas. Nesse campo, como na proteção florestal e na corrida contra a perda da natureza e da biodiversidade, a Alemanha coopera estreitamente com o Brasil.   

Nossa Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável estende-se às áreas que são cruciais para os nossos governos: proteção do clima e das florestas, energia e desenvolvimento urbano sustentável.    

Há muitos anos, a Alemanha dedica-se a inúmeros projetos por meio de nossas instituições executoras, a Agência GIZ e o Banco KFW. Estamos ampliando ainda mais essa Cooperação.

Hoje, pagamos a primeira parte do valor recentemente prometido para o Fundo Amazônia:  20 milhões de euros. Dessa forma, ressaltamos: nós somos e permaneceremos parceiros confiáveis.  

Para além da Região Amazônica, é uma grande satisfação ter agora a nossa mais nova parceria com o Instituto Terra, da família de Sebastião Salgado, fotógrafo mundialmente famoso. Juntos, vamos restaurar muitos hectares de floresta na região entre Minas Gerais e o Espírito Santo. Há muitos anos, investimos, oferecendo consultoria técnica e financiamentos, na expansão das energias renováveis, na energia solar, eólica e também no hidrogênio, bem como em cidades sustentáveis, resilientes ao clima e socialmente justas.   

Afinal, é essencial que a proteção do clima no Brasil, na Alemanha e em todos os lugares, seja moldada de forma socialmente justa. Concordamos plenamente com o Brasil nesse ponto.

Vejam vocês mesmos! Quero convidar a todas e todos: mergulhem no nosso “Universo da Cooperação Sustentávelˮ, nas imagens vibrantes dos nossos projetos da  GIZ e do KfW.

Caros convidados e convidadas,

Com o Brasil, nós também vamos celebrar um aniversário de 200 anos no próximo ano, um aniversário que une os nossos países: os 200 anos da imigração alemã para o Brasil.   

Já em 1817, artesãos alemães e austríacos vieram para o Brasil, quando a Arquiduquesa austríaca Leopoldina – futura Imperatriz do Brasil – casou-se com o herdeiro do trono brasileiro e futuro Imperador Dom Pedro I.

E em 1823 – há exatos 200 anos –, o Governo brasileiro começou a incentivar a vinda de imigrantes alemães para o Brasil.

E com sucesso: em 1824, houve o primeiro fluxo de emigração da Alemanha rumo ao Brasil. Vindos principalmente da região do Hunsrück, do Sarre e do Palatinado, os imigrantes chegaram ao hoje Estado do Rio Grande do Sul.

Até hoje, o Sul do Brasil – sobretudo o Rio Grande do Sul e Santa Catarina – é marcado pela imigração alemã. Mas os imigrantes alemães foram atraídos também por muitos outros lugares do Brasil.

Estima-se que hoje quase 10% dos brasileiros sejam ao menos em parte descendentes de alemães.  

Onde se poderia ver melhor do que aqui, nesta cidade, como eles contribuíram para este país?

Uma cidade cujos prédios foram projetados por Oscar Niemeyer, descendente de Konrad von Niemeyer, que emigrou de Hannover para Portugal. Uma cidade cujo paisagismo – aliás, também o jardim desta Residência – foi criado por Roberto Burle Marx. Seu pai, Wilhelm Marx, cresceu na bela cidade de Trier, na Renânia-Palatinado.   

Nas grandes metrópoles econômicas do Brasil, empresas alemãs tradicionais se estabeleceram, entre elas, os patrocinadores desta noite.

Meus sinceros agradecimentos – por ordem alfabética – às empresas Bayer, BMW, Boehringer Ingelheim, Fresenius Medical Care, Mercedes-Benz do Brasil, Mercedes-Benz Cars & Vans, Merck, Siemens, Volkswagen do Brasil e Volkswagen Caminhões e Ônibus. São, todas, empresas de renome mundial.  

Hoje, quero divulgar também o recrutamento de profissionais qualificados brasileiros para a Alemanha, incentivado por nosso Governo federal.

Temos, por exemplo, falta de profissionais de enfermagem. Ao mesmo tempo, nem todos aqueles que têm boa formação profissional no Brasil – por exemplo, na área de enfermagem – conseguem um emprego aqui. Temos uma chance de acrescentar mais esse capítulo às nossas relações bilaterais.

Muito obrigada!

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